
5 de outubro de 2020
O primeiro mercado público do Recife – dos 24 em atividade atualmente – é o Mercado de São José. Antes de seu surgimento, no século XIX, a capital pernambucana passava por uma transformação urbana com influências nas arquiteturas francesas modernas.
É nesse contexto que os mercados públicos chegaram com o objetivo de estreitar o relacionamento entre o comércio e a população, ligação que se fortaleceu ao longo dos anos. Até a inauguração do São José, em setembro de 1875, Recife possuía prédios e ruas no estilo arquitetônico que se assemelhava à Paris: avenidas largas e mercados de ferro, pensados por arquitetos e engenheiros franceses.
A nova cara do Recife era lapidada no estilo neoclássico pelo engenheiro Louis Léger Vauthier, nome responsável por projetos semelhantes como o Teatro de Santa Isabel, a Casa do Engenho Camaragibe e o prédio de ferro que seria conhecido mais tarde como Mercado São José, inspirado no mercado público de Grenelle, em Paris. Este último encomendado pela Câmara Municipal do Recife.
O terreno através dos anos
Chamado de Terreno (ou Sítio) dos Coqueiros e depois Ribeira dos Peixes, o terreno onde passam milhares de recifenses na atualidade pertencia a Belchior Alves e Joana Bezerra, um casal que, em 1655, repassou as terras para padres capuchinhos.
Antes da movimentação gerada pelo comércio dos mercados na Praça Dom Vital, no bairro de São José, o local agora era conhecido como Ribeira de São José. O ano era 1787 e em nada parecia com a grande rede de troca de produtos que vemos hoje.
No passado, tudo que se vendia pelas bandas do Recife era um punhado de frutas e verduras, no que se entendia agora como Mercado da Ribeira. Este retrato do Recife perdurou até 60 anos antes da grande inauguração do primeiro mercado de ferro no país.
Foi em 1871 que a Câmara de Municipal do Recife solicitou o começo do projeto liderado por Louis Léger Vauthier, que demoraria quatro anos até sua finalização.
As reformas
O Mercado de São José tem um grande histórico de reformas e interrupções de funcionamento. No começo, ainda que a arquitetura tenha sido pensada no estilo parisiense, modificações foram feitas por Vauthier a fim de que o projeto se adequasse mais ao clima tropical.
Mas foi em 1906 que as atividades do Mercado tiveram que ser contidas por 10 meses para uma nova reparação estrutural. Outra, em 1941, foi feita para substituir as venezianas de madeira por cobogós de cimento. As venezianas, vindas também da Europa, é o nome dado para as frestas de entradas de ar, vistas por aqui também em cortinas no material de aço, madeira ou metal.
A ideia de trocar as venezianas por cobogós – elementos vazados que completam a parede –, além do material mais resistente, deixou o Mercado com maior ventilação para a parte interna do edifício.
De 1989 até 1994 o Mercado foi novamente fechado por causa de um incêndio que destruiu parte do local e precisou de restauração durante esse período. Um dos últimos reparos registrados foi em 1998.
Depois de reformas e reparações, o Mercado de São José abrange, hoje, 3.541 metros quadrados. São 377 compartimentos de produtos dividido em dois pavilhões e distribuídos ao longo de 34 barracas internas para alimentos e mais 70 no entorno da calçada externa.
Com mais de um século de existência, o Mercado São José foi reconhecido e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Evolução do comércio
O pequeno comércio que antigamente vendia bananas, laranjas e raízes, agora se impõe como centralizador de produtos de artesanato, diversificando a confecção com materiais de couro, tecido, barro, palha e corda. Salvo trabalhos manuais, o lugar também chama atenção pela grande movimentação de venda de peixes como corvina, atum, cioba, albacora, agulhão e tainha.
Os crustáceos também tem vez no Mercado São José, ofertando camarões de vários tipos e com preços acessíveis. Carnes e cereais diversos também são encontrados à venda. Ao todo, mais de uma tonelada de produtos alimentícios são vendidos por semana.
Impacto do Coronavírus
Meses antes do surgimento da pandemia do novo coronavírus, o Mercado São José sentia uma queda de movimento por parte dos consumidores. Isso por causa da crise estabelecida em consequência da aparição de manchas de óleo no litoral pernambucano, que comprometeu a qualidade da mercadoria no final de 2019.
O desastre, somado com o desenvolvimento da COVID-19, acabou contribuindo para a crise dos pequenos negócios e trabalhadores informais, que dependem da renda.
O Mercado São José voltou a funcionar antes do lançamento do plano de reabertura do comércio pelo governo do estado, mas respeitando as recomendações sanitárias previstas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A entrada no local é controlada e consumidores podem transitar se estiverem usando a máscara, item obrigatório.
Revitalização e qualidade de trabalho
O Mercado São José abraça centenas de trabalhadores informais anualmente e um dos assuntos que mais entram em pauta entre eles é a falta de segurança, organização e limpeza do espaço público.
Não é novidade que o furto de mercadorias no local acontece de forma corriqueira, um problema que afeta diretamente o bolso do trabalhador. Outro ponto a ser melhorado é a revitalização das ruas e calçadas do entorno, deixando de ser somente uma questão de estética para atingir a necessidade de quem utiliza o espaço para a locomoção e trabalho.
Não deixe de conhecer o Mercado de São José e outros locais importantes da história de Pernambuco. A Casa da Cultura, no centro do Recife, também é uma ótima opção para conhecer a tradição do estado.
Serviço:
Mercado de São José
Praça Dom Vital, bairro de São José
Segunda à sábado: 06h às 18h
Domingo: 6h às 12h
Última atualização: 8 de outubro de 2020 as 12:01