7 de outubro de 2020
Restaurante Leite: o mais antigo restaurante do Brasil está no Centro do Recife
Não tem pernambucano que não se orgulhe dos títulos que a nossa capital carrega. É no Recife que estão, por exemplo, a avenida mais comprida em linha reta da América Latina, a Avenida Caxangá, e o jornal mais antigo em circulação na América Latina, o Diario de Pernambuco. E é no Centro do Recife que funciona, há 138 anos, o Restaurante Leite, o mais antigo do Brasil.
Fundado em 1882 pelo português Armando Manoel Leite de França, o local nasceu no Brasil Império, quando Joaquim Nabuco ainda era vivo e a escravidão ainda não tinha sido abolida no país. Dá para imaginar? Inaugurado na Rua do Sol, próximo à Ponte da Boa Vista, abriu as portas justamente onde a capital pernambucana fervia naquela época, quando os recifenses circulavam de charretes, canoas e bondes pelo Centro da cidade.
O grande movimento logo motivou a mudança para a Praça da Concórdia, hoje chamada de Praça Joaquim Nabuco, onde as atividades ainda são mantidas. Ao longo de mais de um século, as mesas do Leite foram palco de debates políticos, encontros entre intelectuais, acordos econômicos e parada obrigatória para personalidades de passagem pelo Recife.
Foi somente em 1956 que os irmãos Amadeu, Luiz e Armênio Dias adquiriram o Restaurante Leite, que permanece na família até hoje, administrado desde 2014 por Daniela da Fonte e Silvana Ferreira, filhas de Armênio. Foi com elas que conversamos sobre os desafios de manter esse patrimônio da gastronomia pernambucana a pleno vapor, atravessando crises econômicas e transformações sociais que mudaram o mundo nos últimos 138 anos, se reinventando sem perder sua identidade e tradição.
Entrevista: Daniela da Fonte, proprietária do Leite
Recife Centro: Em linhas gerais, o que o Leite representa para o Centro da Cidade?
Daniela: É um patrimônio, o restaurante mais antigo do Brasil. Desde que foi criado por Manoel Leite em 1822, é ponto de encontro da sociedade pernambucana. O Leite ajuda a contar a história do Recife. Quando foi fundado, ainda nem existia a Praça Joaquim Nabuco como a conhecemos hoje, porque o próprio Joaquim Nabuco ainda era vido… O Brasil ainda era um país escravocrata. Muita coisa aconteceu em torno do Leite.
Recife Centro: Poderia citar fatos marcantes que o Leite “testemunhou”?
Daniela: O Leite estava no centro de tudo, principalmente porque foi fundado numa época em que o Centro do Recife era ainda mais valorizado, era onde a vida acontecia e as pessoas se encontravam. O Leite era um ícone desse contexto. Quando o Zeppelin sobrevoou o Recife, o Leite foi ponto de encontro das personalidades. Quando a Rainha da Inglaterra visitou a cidade, também. Já recebemos reis, príncipes, governantes, artistas, personalidades…
Recife Centro: E como tem sido o ano de 2020 para o Leite, diante das restrições impostas pela pandemia de Covid-19?
Daniela: Fechamos temporariamente quando o governo determinou lockdown no estado. Mas atravessamos este ano sem demitir ninguém. Inclusive, aproveitamos os cinco meses de quarentena para reformar a casa, recuperar o salão, piso, painel, telhado… isso mostra que a casa acredita firmemente em seu negócio, mesmo em tempos desafiadores. Temos o compromisso, como proprietários, de preservar essa parte importante da história pernambucana.
Recife Centro: Como descreveria a clientela do Leite?
Daniela: É uma das nossas características mais marcantes. Você vê as mesmas pessoas frequentando o Restaurante Leite há décadas, sentando nas mesmas mesas, fazendo os mesmos pedidos. A clientela é parte especial da tradição do Leite.
Recife Centro: E os funcionários, também estão na casa há anos?
Daniela: Temos vários com mais de 40 anos de casa. Funcionários que são da terceira geração da família a trabalhar no Leite, cujo pai e avô já trabalharam aqui. Não temos nenhum garçom com menos de dez anos de casa e todos estão sempre passando por treinamentos de reciclagem. Então aliamos experiência e reciclagem constante.
Recife Centro: E em relação ao cardápio do Restaurante Leite, como agradar os clientes tradicionais e, mesmo assim, se manter atual em relação às tendências da gastronomia?
Daniela: Temos o cuidado de preservar nossa história, inclusive atendendo clientes que pedem pratos que já não estão mais no cardápio, mas preparamos especialmente para eles. Preservamos os nossos pratos e, ao mesmo tempo, estamos atentos a uma nutrição mais saudável, que hoje é tão buscada pela população, pensando na saúde da clientela. Além de chef próprio, contratamos nutricionista para balancear nosso menu, adaptar algumas coisas, pensar em opções mais saudáveis.
Recife Centro: E quais os principais elogios feitos pelos clientes, o que eles apontam como diferenciais do Leite?
Daniela: O ambiente clássico, o piano com pianista tocando ao vivo, a qualidade dos alimentos, o cuidado na escolha dos ingredientes, o atendimento diferenciado. Eles se sentem em casa, isso é muito especial. O Leite é uma extensão da casa deles. Nos telefonam para avisar que vêm comemorar aniversário, aniversário de casamento, encomendam os pratos preferidos da família…. É um ambiente familiar para eles.
Recife Centro: Além da importância do Leite para o povo pernambucano, qual o significado desse patrimônio para a família de vocês?
Daniela: Para a nossa família, é um patrimônio. Temos um cuidado enorme com cada uma das decisões que tomamos, porque queremos garantir que o Leite continue preservando a longevidade que ele tem. Levamos muito isso em conta. A administração do restaurante não avalia somente os resultados comerciais, o lucro da operação, cuidamos do Leite com o intuito de preservar esse patrimônio da cidade do Recife.
E você, já conhecia a história do Leite? Para se familiarizar com outros pontos tradicionais do Centro do Recife e navegar pelas lojas, restaurantes e atrativos turísticos da região, navegue pelo nosso guia digital e acompanhe o Recife Centro também nas redes sociais.
Última atualização: 4 de fevereiro de 2021 as 09:34